quarta-feira, 28 de junho de 2006

« SEGREDANDO... »

Fernando Peixoto

Sugo-te, sereia, o doce néctar,

o mel com que sempre me inebrias

e espalho no teu ventre esta saliva

que me escorre do sabor dos teus cabelos.

Teus olhos me iluminam

e fascinam

Teu hálito em meus lábios me segreda

volúpias que entontecem

e tuas mãos arpejam meus sentidos

como um eco de delícias nos ouvidos.

Vem, meu amor, vem de mansinho

passear teus pés na curva do caminho

onde deitado me quedo à tua espera.

FERNANDO PEIXOTO

« DAQUI... »

Sylvia Cohin

daqui te estendo meus braços virtuais,
sinto nas mãos o calor de tua pele...
olhos fechados, inspiro teu perfume,
vejo tua luz brilhar nesse negrume...

cheiro que se alastra, meu corpo incensa...
teu hálito morno sinto que murmura...
deixo que o corpo todo te absorva
inda que nem um músculo se mova...

serás mistério vindo das galáxias ?
serás o encanto de um doce feitiço ?...
e quando penso que te tenho à mão,
vejo tua imagem a desmanchar no chão...

o mesmo percurso eu recomeço,
e paciente, refaço o teu retrato.
vejo-te pronto, muito perto, e enfim...
teus longos braços arrebatam-me de mim...!

SYLVIA COHIN

« NO PALCO »

Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

No palco do teu corpo vai surgir
essa peça que eu vou interpretar
quando o pano de cena for subir
e a curva dos teus lábios for beijar.

O sabor do teu beijo me inebria
num toque tão sutil e provocante
que vivo nosso enredo na magia
de te ver como ator e meu amante.

Se o desenho de luz é secundário
se a palavra é apenas a mensagem,
tu és mais importante que o cenário
porque tu és a MINHA personagem.

É tão grande a emoção que me domina
que me perco entre o ator e o sentimento.
E me fazes vibrar feito menina
ou contemplar-te com encantamento.

É delicado o nosso movimento
e o texto que dizemos já de cor
como um eco do nosso sentimento,
uma brisa no Palco deste Amor.

E quando desce o pano deste drama
nos bastidores da intimidade
e se extinguem as luzes, fica a "chama":
começa o Acto da Felicidade.

FERNANDO PEIXOTO
SYLVIA COHIN

sexta-feira, 16 de junho de 2006

BICHO DE ESTIMAÇÃO
Sylvia Cohin & Fernando Peixoto
(Dueto)

a saudade é um bichinho
parecido com cupim
que faz no peito o seu ninho
e um estrago sem fim...
espécie de parafuso
sempre enroscando-se em mim.

em silêncio, noite e dia,
vai roendo ferozmente...
como quem acaricia,
tudo traça com seu dente...
corta, trinca, morde, estria,
moe o corpo, lentamente.

de saudade morre gente
que também por ela vive
um bichinho diferente:
só morre se sobrevive!
escorrega, na ladeira
da tristeza, em declive.

coitado do arquiteto
que desenhar a saudade
seja em madeira ou concreto,
dela não mostra a metade...
mostra apenas um deserto
com miragens de verdade.

não há nada que a defina
com exata precisão:
saudade é dor que amofina,
é voluntária prisão.
uma espécie de morfina
para a dor da solidão.

não se tente amordaçá-la
resulta devastação...
saudade quando se cala,
rasga o peito e o coração!
é grito que nos abala,
tempestade, furacão!

é por isso que o poeta
que faz rima, escreve canto,
se da palavra é esteta,
...da saudade veste o manto!
aedo, bardo ou profeta,
enche de versos seu pranto.

SYLVIA COHIN & FERNANDO PEIXOTO
Porto, 14.06.2006

terça-feira, 13 de junho de 2006

DOCE MISTÉRIO
Sylvia Cohin

Que mistério, doce lua

tem teu leito aconchegante?

que magia exibes nua

que fascina todo amante?

teu sorriso de menina,

de uma alvura inebriante,

se esparrama pela rua,

ilumina cada esquina...

tens um segredo guardado

em teus quartos sem parede,

como um raio prateado

enche de amor quem tem sede...

mas se acaso só refletes

uma luz que não é tua,

é dos amantes que vertes

o mistério que flutua...

SYLVIA COHIN
12.06.2006

quinta-feira, 8 de junho de 2006

SORRI, FILHO MEU !

Cleide Canton

Sorri, linda criança!
Tenta, titubeia mas alcança
o mundo de maravilhas que vês!
Abre teus olhinhos de esperança
e abraça a vida como ela te parece,
enquanto, por ti,
eu redobro minha prece.

Sente a brisa que te toca mansa,
o sol que se levanta, rei,
o perfume das flores vivas,
o chão firme em que pisas,
e o calor do meu abraço.
Sonda o teu espaço!

Não permitirei que deixes o desfrute
para o dia seguinte,
pois é incerto o amanhã, embora creia
que minha luta não será vã.

Canta, filho meu!
Mostra-me o esplendor da tua alegria
pois já não tenho essa companhia.
Quero ouvir teus gritos felizes,
bálsamo para minhas cicatrizes.

Dá-me tua mão, criança,
pois ainda são curtos e indecisos
os passos que tranças.
Não tenhas pressa, anda devagar.
Eu te soltarei quando puderes sozinho caminhar.
E te deixarei livre quando souberes amar.

Dorme, meu anjo
e sonha com o amanhã feliz.
Ver-te, assim,
sereno, quase sorridente,
no teu berço macio e quente,
recupera as minhas forças e a minha fé.

Meu dever é deixar para ti
um chão que ames e de que te orgulhes
e valores essenciais, tão esquecidos,
para que te encaixes entre os bons,
os puros, os justos, os sensatos.

Tenho tanto ainda a fazer!
Que Deus me permita
jamais esmorecer.

CLEIDE CANTON
São Paulo, 05/06/2006

segunda-feira, 5 de junho de 2006

ESTAREI SEMPRE DE PARTIDA

Jorge Reigada

Porque devo parar no tempo, na vida
Porque deixar de continuar um ser andante
E me estagnar largando o rio errante
Se meu destino final é o mar da despedida?

Portanto, eu quero e estarei sempre de partida
Neste eterno caminho de ida que é a vida.
Que já me deu uma enorme caixa de recordações
Onde guardei frustrações, realizações, paixões...

Futuro? Não sei! Uma folha em aberto
Só tenho de certo o instante. Eu sou um mutante.
Vivo na alegria da surpresa, ideal descoberto
Depois que o medo me petrificou no instante.

Vivas ao novo... Rompi esta casca do ovo
Que não me protegia apenas me tolhia, cegava.
A vida passando enquanto eu esperava
E aguardava o que, a morte? Me livrei do estorvo.

Que me venha o futuro. Que seja eu surpreendido
Pois, minha força esta na forja do meu passado
Já conhecido, vivido, revivido, caminhado e adornado
Com flores murchas pelo tempo já saudado.

Que me venha a surpresa. Ruim ou boa
Que pela vida me cubram o sol ou a garoa.
O brilho iluminará minha parte mais profunda.
E a chuva tornará minha alma mais fecunda.

Rio de Janeiro, 28 de maio de 2006
JORGE REIGADA

UNI-VERSO & RE-VERSO

Sylvia Cohin

O meu verso,
é com ele que converso
por um caminho transverso...

Busca além do infinito,
leva um canto solitário,
e alegre ou muito aflito,
do que vejo, é o cenário...

Dorme alerta.
É quase um grito...
Porta aberta
onde reflito...

Da janela do meu verso
acenando a todo lado,
eu mergulho no reverso
escondido, e bem guardado...

E a vida no regaço
deste místico Universo,
é cada verso que enlaço
nesse cosmo submerso...

SYLVIA COHIN

(e.cortazar_fire.and.ice.mid)