quarta-feira, 26 de julho de 2006

« GALATEIA »

Fernando Peixoto

Nas tuas mãos calosas e gretadas,
nos dedos sem anéis que tu me estendes,
nas unhas, que não tens envernizadas,
nos lábios sem baton com que me prendes,
nas rugas que sorriem, já cansadas,
ou nos olhos sem rimel, inda acendes
fogueiras de volúpias, partilhadas
por cândidos cupidos e duendes.

No teu corpo sem creme nem pintura
há uma graça natural, que o dia-a-dia
dum intenso trabalho edificou.

Duvido se és mulher, se és escultura,
tais são as proporções e a harmonia
que em teu corpo o trabalho combinou.

FERNANDO PEIXOTO

« A QUALQUER PREÇO »

Sylvia Cohin

Só por hoje, resistirei à tentação de me sentir

deprimida e não terei pena de mim.

Só por hoje, aceitarei sem questionar o que fui

e o que sou, sem me martirizar.

Só por hoje, e por ti, que quero saber feliz,

farei de minha vida uma festa!

Só por hoje, e valendo a Eternidade, beberei à Alegria.

Só por hoje, deixarei escapar a criança que mora

em mim e brincarei com ela sem parar.

Só por hoje, vou me liberar, rirei de minhas fantasias

e farei inveja à mais linda Colombina...

Só por hoje, mostrarei a magia do sorriso

mascarando minha face.

Só por hoje, não permitirei nada que altere o meu humor,

darei aos contratempos o valor que merecem

e encontrarei graça em tudo à minha volta!

Só por hoje, não sentirei falta de nada... nem da saudade...

Só por hoje, não admitirei pensamentos negativos

e serei apenas serenidade.

Só por hoje, esquecerei sombrias lágrimas,

e tolos medos...

Só por hoje, viverei por toda a vida!

E porque te amo hoje, decreto que não mais haverá

Ontem ou Amanhã,

e Hoje quero ser feliz a qualquer preço!

SYLVIA COHIN

quarta-feira, 19 de julho de 2006

« O TREM DA VIDA... »

Sylvia Cohin

Passa ano, passa dia, passa hora...

Num dia a gente chega e no outro vai embora.

E nesse vai-e-vem,

deixamos um pouco de nós, levamos no peito alguém...

Estradas que ninguém vê,

guardadas no coração de quem não quer se perder.

Passa tempo, passa estrada,

passa ano, passa dia, passa hora...

E a dor que fica guardada, é bicho que nos devora...

Num dia a gente chega,

no outro...

a gente vai embora ...

TUDO PASSA!

A gente está sempre partindo,

buscando o que já tem na mão...

Mas também sempre chegando,

onde pensa que é o lugar...

E nessa andança inquieta,

esquecemos de

parar...

Abrir o peito.

Olhar,

e finalmente,

encontrar...!

SYLVIA COHIN

sábado, 15 de julho de 2006

« QUE FALTA FAZES »

Sylvia Cohin

Olho em volta e não te vejo,
sinto apenas o vazio
dedilhando o triste arpejo
da saudade em desvario...

Teu espaço verdadeiro
é maior que o Universo
embora caibas inteiro
nas letras deste meu verso...

Dói o peito, chora a alma,
vou te chamando baixinho...
Meu coração só se acalma
sabendo-te a caminho !

E desenho em pensamento
teu rosto rindo pra mim,
o abraço, o excitamento
de dar-te um beijo carmim !

Ah, amor... Levaste tudo contigo,
as cores, a luz, a alegria,
ficou somente comigo
a saudade e a nostalgia...

No silêncio desta espera,
afago tua ausência em mim...
e florindo primavera,
renovo este amor sem fim !

Contando cada minuto
das horas lentas, vorazes,
neste verso diminuto,
confesso: Que falta fazes !

CLIO

segunda-feira, 10 de julho de 2006

« CERTEZA »

Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

É a centelha do estralejar que se anuncia...

é o vôo do corpo

que se lança ao espaço sem medir distância,

sem medo qualquer,

asas abertas em vôo solidário

descrevendo harmoniosos arcos paralelos,

desfazendo nós, soltando amarras.

É viver a confiança, exercitar a compreensão

com ternura infinda,

é assumir a grandeza da partilha da vida com o outro,

sem carácter de missão...

sem o famoso livro-caixa...

Sem «Deve» e «Haver»

mas como decorrência exclusiva

do estar junto

construindo Vida, plantando História,

colhendo Eternidade!

Centelha que é prenúncio de rara beleza,

fusão de corpo e alma,

parelha planando em rota calma

onde o Amor é Norte e plena Certeza!

FERNANDO PEIXOTO & SYLVIA COHIN

quarta-feira, 5 de julho de 2006

« TU »

Albino Santos

TU, que ocultas nos teus olhos a força dos elementos

TU, que no teu sorriso alimentas uma esperança

TU, que nos teus lábios emergem fantasias

TU, que no teu rosto transparece a ansiedade

TU, que no teu silêncio se revelam mil desejos

TU, que em tuas mãos despertam subtis carícias

TU, que em cada gesto dominas o impulso

TU, que sabes que o tempo é a eternidade
Que sabes que a vida não perdoa hesitações
Não temas por mais tempo a realidade
Não reprimas no peito as tuas sensações

TU, que sabes que em tudo existe imperfeição
Que sabes que há outro horizonte à tua espera
Não pode haver tratado, regra ou convenção
Que te impeça de viver a tua primavera

TU, que sabes ser o sonho apenas um momento
Que sabes estar certa a hora da verdade
Solta as tuas velas à mercê do vento
E parte deste cais rumo à liberdade

ALBINO SANTOS
Porto - Portugal
« SUAVIDADE »

Lêda Mello

Começa
olhando para ti mesmo
docemente,
carinhosamente
suavemente.
Como um todo e
em cada detalhe,
em cada célula,
em cada pensamento.

Depois,
permite-te um presente:
o teu Agora.
Vive cada segundo
em seu tempo real.

O segundo que passou
já se perdeu no tempo,
passou.
Existe, apenas,
na tua imaginação.

O segundo que virá,
independente das tuas ansiedades,
virá.
Mas virá de acordo
com o que fizeres
em cada Agora.

Vive a doçura
do teu instante.
Adoça-o.
Saboreia a ternura
do teu momento.
Enternece-o.
Mereces de ti mesmo
os maiores cuidados,
os melhores carinhos.
Suavemente.

LÊDA MELLO
Arapiraca (AL) - Brasil