sábado, 27 de janeiro de 2007


« AMOR NA PLANÍCIE »

Fernando Peixoto

Desfez-se a geometria no compasso
Que rodou ao seu redor descompassado
Ébrio perdido em seu regaço
No relevo do seu corpo despojado

Escutava-se apenas o tan-tan
Percutido com os dedos sobre a pele
Raiava-lhe nos seios a manhã
Reflectia-se o sol nos olhos dele

Foram horas? Minutos? Ninguém sabe
Quanto tempo durou esse lampejo
Porque o tempo preciso nunca cabe
No tempo impreciso do desejo

Foram corpos apenas em fusão
Na ígnea massa que jorrava
Oriunda dos corpos em vulcão
Na planície do Amor que fecundava

Voaram as aves em cortejo
De asas de anjos encheu-se então o dia
Viu-se as nuvens fundindo-se num beijo
e uma brisa soprando em melodia

FERNANDO PEIXOTO

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

« TRISTE POETA...! »

Sylvia Cohin & Fernando Peixoto

Haverá estrelas a quem falar
dos versos escritos nessa noite escura?
Melhor sonhar sem fronteira,
onde p´ro canto alegre ou triste,
nasce a rima da ternura...


Soltam-se as rimas ao vento
Dançam os versos no éter
E as ondas do pensamento
Ondulam no firmamento
Nos cabelos de Deméter


Melhor contar pro coração
coisas que o mundo nem sabe:
Pranto de amor só existe
p´ra que a rima não se acabe...


Não se acaba a rima quando
A Dor aprende a rimar
Com versos que vão voando
Nos sonhos do verbo Amar.


Esquece, Poeta, a tua sina!
Enxuga o pranto do passado
que afinal foi bom um dia...
Não há dor sem proveito nem amor
sem alegria...
Não há fruto sem semente,
chuva sem nuvem
nem passado sem presente
que acorda sem medo,
no berço de outro dia!


Escuta, musa, os sinais
Dos mais tímidos segredos
Que nos escapam dos dedos
Em gestos tão naturais
Que afastam de nós os medos
Para espaços siderais
E devolvem a coragem
De assumirmos a certeza
De sermos, nesta paisagem,
Mais que uma simples miragem,
Um oásis de pureza.


Canta ao vento a rima da lembrança
que renasce toda hora em cada esquina!
A saudade é chão de caminhante
que alimenta a inspiração menina!


Eu quero alimentar a esperança
Que o poema clareia e ilumina
E sentir nessa luz a segurança
Com que o Sol irrompe na neblina.


Oh poeta sonhador!
O teu canto sem fronteira,
é alento que enfuna a vela,
que impele o barco a navegar contra a procela,
que acende a chama da Verdade,
que seca o lodo do charco,
e rasga as portas do horizonte
na busca infinita ou derradeira,
de tua amante e companheira...
A Eternidade!


Eu sei que o Canto é a minha meta
Condenado que estou nessa sentença
De ser Anjo, de ser Homem, ser Poeta,
E se o Passado me trava na Saudade
Abro as asas e vôo sem detença
Rumo ao Norte, ao Sonho, à Eternidade!


SYLVIA COHIN & FERNANDO PEIXOTO

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

« APELO A 2007 »

Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

Somos feitos por Dias, Meses, Anos,
num percurso ignoto mas constante,
repleto de certezas e de enganos,
vencidos num Passado, já distante,
esperanças que agora semeamos
e nos vão testando, a cada instante.

Somos - do Tempo - a parte resultante,
Memória acumulada e sensitiva,
na trilha do Anseio inquietante,
buscando, como Planta Rediviva,
a Chuva do Deserto... tão mutante,
que Dessedenta o corpo, e a alma Aviva.

Que somos, afinal? A parte activa
que dia a dia vira o calendário.
Parcela de Utopia sempre viva,
sem tempo pra parar e sem horário,
Tempo nosso que ao Tempo não se esquiva
e escreve no Futuro o seu Diário.

Somos quem vai reinventar a ordem,
viver o Futuro antes do Passado...
antes que o Tempo e a Utopia acordem...
Seja o Presente o rumo desejado
e se esqueça do Ontem a desordem
pra que o Sonho caminhe ao nosso lado.

FERNANDO PEIXOTO & SYLVIA COHIN
01 de Janeiro de 2007