terça-feira, 27 de março de 2007


Dia Mundial do Teatro
27 de Março

« No Palco »
Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

No palco do teu corpo vai surgir
essa peça que eu vou interpretar
quando o pano de cena for subir
e a curva dos teus lábios for beijar.


O sabor do teu beijo me inebria
num toque tão sutil e provocante
que vivo nosso enredo na magia
de te ver como ator e meu amante.


Se o desenho de luz é secundário
se a palavra é apenas a mensagem,
tu és mais importante que o cenário
porque tu és a MINHA personagem.


É tão grande a emoção que me domina
que me perco entre o ator e o sentimento.
E me fazes vibrar feito menina
ou contemplar-te com encantamento.


É delicado o nosso movimento
e o texto que dizemos já de cor
como um eco do nosso sentimento,
uma brisa no Palco deste Amor.


E quando desce o pano deste drama
nos bastidores da intimidade

e se extinguem as luzes, fica a "chama":
começa o Acto da Felicidade.


Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

domingo, 18 de março de 2007

« Poesia-indumentária »

Sylvia Cohin

apetece-me valsar
rodopiar no salão
flutuando pelo ar
através da imensidão...

e com rimas pequeninas
vestir meu corpo de trapos
fazer estrofes traquinas
ou versejar desabafos

apetece-me chorar
deixar o peito doer
pelas tristezas sem par
que não posso arrefecer

e com rima que protesta
vestir meu corpo num verso
que de armadura se presta
neste mundo que alicerço...

apetece-me cantar
(afinal, sou boa atriz)
melopéias pra embalar
a utopia que eu bem quis...

e com versos que encorajem
numa estrofe-indumentária,
vestindo a alma selvagem
de uma rima incendiária

apetece-me esvair
todo som de minha voz
se o melhor que há-de vir,
chegar logo, bem veloz...

e co'a mais singela rima
na ternura de um Poema,
colher a melhor vindima
da videira de um fonema.

SYLVIA COHIN

quarta-feira, 7 de março de 2007

A foto é Edna Ezequiel, 29 anos. Sua filha Alana, 12, morreu
atingida por uma bala perdida, no morro dos Macacos,
zona norte carioca.
A imagem foi captada por Marcos Tristão/Agência Globo.


« é dia de maria... »

sylvia cohin


Como se das marias não fossem todos os dias...
Talvez por isto, não queira falar de Mulher e sim, para as marias,
iguais em qualquer parte do planeta, não importa a cor,
a nacionalidade, o cariz social ou o nível de instrução.
Maria é maria, em qualquer lugar. Maria é Dor e Amor.
Que me perdoem as outras,
mas hoje quero falar de uma certa maria...
"maria-velha"
"maria-besta"
"maria-branca"
"maria-é-dia"
"maria-judia"
Nenhuma é santa, mas... resta saber...
Porque besta, ‘velha’, ‘judia’,
ou luminosa como a luz do dia, sempre há maria,
e ninguém contesta, pelo que vê...
"maria-de-barro"
"maria-rita"
"maria-da-toca"
"maria-preta"
"maria-da-serra"
"maria-seca"
Sem sobrenome, muito pobre ou muito nobre, como quiser...
Às vezes, Maria seca, e a vida toca, a serra 'desce',
pode ser preta, amarela, também de barro e até aflita,
mas... de Ser Mulher, nunca se esquece...
"maria-vitória"
"maria-rosa"
"maria-farinha"
"maria-isabel"
"maria-nagô"
"maria-rendeira"
Quisera contar de cada maria a história
camuflada em cognomes...
Tem maria princesa, flor, escória,
que a vida quando não mata, espezinha, e até 'come'!
E se um dia bem amou, maria é também parideira...
"maria-cadeira"
"maria-da-mata"
"maria-mole"
"maria-chiquinha"
"maria-mijona"
"maria-fumaça"
Tanta mulher camuflada, parece até brincadeira...
mas não se pode esquecer: se há uma que desacata,
o mundo enfrenta, outra é mais fraca e sem raça...
"maria-mulata"
"maria-vai-com-as-outras"
"maria-sem-vergonha"
"maria-faceira"...
Essas marias-mulheres, de tanta versatilidade,
são uma Pátria (e nem sabem!), canteiros de miscigenação,
sem preconceito, são Mulheres por Opção,
mistura de utopias e verdades...
Sobretudo fêmeas em qualquer situação,
mascaradas no encanto desta multiplicidade,
é assim, esta "maria-brejeira", atualmente,


aprendiz de guerrilheira...
a Maria-Brasileira!

SYLVIA COHIN
Para o Dia Internacional da Mulher,
08 de Março de 2007