sábado, 30 de junho de 2007


« AMAR »

(Diálogo Olímpico)

" clio "
amar desenha n´alma a tatuagem
que não se apaga, inda que esmaeça,
inda que o tempo arranhe na passagem,
permanece, sem que a alma esqueça!

" eros "
amar é sobretudo essa ciência
que não integra nenhum dos manuais
é como equação da existência
ou sonho dividido em radicais

" clio "
amar é pólen fecundando o ar,
semente fértil que se reproduz
é primavera prenha a voar
gestando Vida num parto de luz

" eros "
é código indecifrável e complexo
biologia de toques animais
é a certeza de que o próprio nexo
vem dos instintos mais irracionais

" clio "
o amar governa acima dos sentidos
regido por anseios inconfessos...
liberta os desejos omitidos
santificado até por seus excessos!

" eros "
é onírica viagem partilhada
por tangentes que se tocam, tão iguais
que se tornam em curva prolongada
e se fundem em sonhos divinais

SYLVIA COHIN & FERNANDO PEIXOTO



sábado, 23 de junho de 2007

« Na Noite de São João »

Fernando Peixoto & Sylvia Cohin

Na noite de SãoJoão
contigo fico mais rico:
ganhei o teu coração,
ganhaste o meu mangerico.


Na noite de São João
estavas por todo lado.
Eras a luz de um balão
no céu de fogo estrelado.


Salta a fogueira, não caias,
e aquilo que mais te rogo
é que não pegues às saias
o calor de tanto fogo.


A fogueira que me queima
qual suão nos meus cabelos,
voga o Douro nessa teima
do vai-e-vem dos rabelos...


E de manhã, já cansada
dizes num soluço: « eu morro! ».
Depois de tanta « porrada »
Já quebraste o alho-porro.


Teu nome em cada balão
encheu o céu de saudade
refletida aqui no chão,
no braseiro qu´inda arde...


Fomos ambos nesta festa
no meio da multidão.
Pela manhã só nos resta
dormir na praia... ou no chão!


Vou dormir de qualquer jeito
p´ra sonhar a noite inteira!
No aconchego do teu peito
feito brasa na fogueira...


Restam cinzas? É verdade.
Mas continua o calor...
E se o corpo já não arde
mantém-se em chamas o amor.


Nosso amor é como o lume
que requenta o coração...
Deixa morto de ciúme,
o fogo do São João...


Fernando Peixoto & Sylvia Cohin
Junho de 2007

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sexta-feira, 15 de junho de 2007

« MEUS MARES... »

Sylvia Cohin

tenho em mim tantos mares ondulantes...
uns parecem serena calmaria,
outros bravos soprando maresia
mas é sempre missão de navegantes
viajar sem temer a imensidão,
com o leme buscando a direção
sobre um mapa de estrelas cintilantes...

mar de lágrimas que um dia atravessei
entre as ondas revoltas da tormenta
que minha nau invadia, violenta,
a levar-me por caminhos que nem sei...

mar de sonhos... bailando no horizonte
refletido no azul do devaneio,
viajante no apelo onde me enleio
da aurora que desponta bem defronte...

mar de luta renhida entre os gigantes
um profundo mistério assustador
remoinho a tragar ao meu redor
minha nau de esperanças vacilantes...

mas, de todos os mares que singrei,
o mais belo acolheu-me com seus olhos
tão azuis, transparentes, sem escolhos
enseada que tanto procurei...
seus braços são recôncavo seguro
que as âncoras sustentam no escuro:
são o leito macio onde aportei...

SYLVIA COHIN