domingo, 26 de agosto de 2007




DUETO: «Soneto a Clio»



Fernando Peixoto

Não peças à razão pra me suster
Nesta fome ansiosa de abraçar-te,
E não penses que posso imaginar-te
Um só dia que seja sem te ter.

Que eu bem queria, Amor, ter o poder
De, ao menos por instantes, olvidar-te
E não ter, como tenho, de beijar-te
Para ter a certeza de viver.

É tão forte este amor, que me detenho
Acusando Cupido da maldade
De me apanhar assim, desprevenido.

Já não sei se te perco ou se te tenho,
Se és apenas mulher ou divindade,
Ou um sonho de amor enlouquecido.

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«Soneto a Eros»



Sylvia Cohin

Diz-me, Amor, se a razão encontra espaço,
Ardendo como fogo lentamente...
Se existe impedimento que sustente,
A ânsia de acolher-te num abraço...

Quisera estar contigo em meu regaço
No afago de ternura que alimente
A sede de viver, em ti, premente
E em água no deserto, me desfaço...

Benditas são as artes do Cupido
Na flecha envenenada pelo Amor,
atingindo tua Musa plenamente.

Faz-se Vida o Mito bem concebido
Que o Olimpo cultiva com lavor,
E nos brinda c'os frutos da semente...

FERNANDO PEIXOTO & SYLVIA COHIN

« VIDA!! »

Sylvia Cohin

Vida... vida...
Vida minha...
Castelo de verdades,
etérea fantasia...

Vida, vida minha
ardor e utopia,
crença permanente,
urgente, fugidia...

Vida a girar,
carrossel...
Minha vida,
tanto sentir, quanto amar...

Curso trepidante
ameno...
áspero... intrigante...
pleno...
estigmas, enigma...

Vida que escorre e passa,
água de rio
sinuoso,
turvo, caudaloso...
Vida apressada,
viagem... escalada...

Fica!!

Não ouses fugir,
Fica...
Preciso de ti.
Falta escrever o pedaço
da Vida que não vivi!

SYLVIA COHIN

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

HeinrichFueger_Prometheus.brings.fire.to.mankind


« A Loucura do Poeta »

Fernando Peixoto

Que a voz do Poeta não se cale
Que os olhos do Poeta não se fechem
Que os seus versos sejam a sirene
Que alerta toda a gente à sua volta
Que o poema seja o grito inconformado
Dos braços que se erguem na revolta
Contra os braços curvados e a cerviz
Submissa ao peso da opressão
Que o poema seja sempre vertical
Um relâmpago enorme em noite escura.
Que o Poema seja uma canção
E rasgue o medo em mil pedaços
Com versos de amor e de ternura
Espalhados por mil bocas e mil braços.
Que o Poeta seja mais que um ser humano
E que tanja a lira do seu canto
Elevando a Poesia até ao céu
E que entregue aos homens o seu Fogo
Assumindo o papel de Prometeu.

Quando o Poeta escreve por Amor
A palavra torna-se a armadura
Com que o Homem vence a própria dor
E destrói o vírus da amargura.

É louco, o Poeta? Deixem lá:
O mundo precisa da loucura.

FERNANDO PEIXOTO