domingo, 23 de dezembro de 2007


« FELICIDADE COLETIVA »

Sylvia Cohin

Mais um ano indo embora. Valeram as lutas!
O desgaste não apaga o mérito da porfia.
Os amigos que fizemos, não foi mero acaso. Foram conquistas...
A saúde que tivemos, o pão que não faltou, as alegrias,
os desafios superados e objetivos alcançados, como esquecer?

As perdas... tão doídas, que não pudemos evitar, parte da vida...

O dinheiro ganho com esforço, fez-se prêmio pelo empenho,
diferente daquele, ‘ganho’ pela marginália que sustentamos.
Incentivaram-nos, deram-nos a mão, fomos aceitos como somos...
Também nos apontaram falhas e NOS FIZERAM MELHORES!
E os que caminharam lado a lado? Estes, dividiram o peso da cruz.
Deram o ombro, choraram junto, esqueceram-se de si para acudir.

Por isso e muito mais, há o que comemorar. Mas falta uma coisa
e sem ela, nossos sucessos pessoais perdem o sabor, cedem lugar
a uma nostalgia indecifrável que faz parte de nós:
«a felicidade coletiva»

NOSSA PAZ torna-se duvidosa quando o vizinho sofre,
quando conflitos grassam no mundo, quando há tragédias.
Quando o corpo de um inocente cai sacrificado.
NOSSA PAZ inquieta-se diante dos patéticos donos do Poder;
Reis e Governantes, os Chefes do Mundo, os Caciques,
incapazes, inúteis ou impotentes para construir felicidade,
essa que a todos assiste, direito subtraído aos homens.

Num gesto de flácida resignação, voltamo-nos para outro mundo,
aquele que podemos colorir ao gosto...
Compramos presentes, fartamo-nos e festejamos ‘nosso reino’.
« Mas sabemos quantos não terão o que comemorar! »
É muito alto o preço atávico dessas mazelas,
e raiz de muitas nostalgias.

Para que assim não fosse, urgia ir além das vitórias pessoais.
Comungar Fraterna Unidade.
Entregar um pedaço de nós mitigando a dor, repartindo o pão,
acalentando a solidão, doando um abraço, calor humano,
semeando bem-aventurança vestida de um sorriso de festa,
Paz Natal...

Eu me pergunto neste ano que se esvai: Por que será que as
grandes 'Patentes' não manufaturam PAZ?... Seria tão mais fácil...

SYLVIA COHIN
21 de Dezembro de 2007

FELIZ NATAL, MEUS AMIGOS !

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

« Não Gosto do Pai Natal »

Fernando Peixoto

Não gosto do Pai Natal
porque a mim já não me ilude:
todas as prendas que traz
dão-me cabo da saúde.

Traz no saco, que carrega,
cada vez mais sofrimento
e deixa-me logo «à pega»
baixando-me o vencimento.

Com discursatas perversas,
mil ilusões repartidas
enche o saco de promessas
que nunca serão cumpridas.

Eu não quero dizer mal
mas temos gostos opostos:
peço prendas plo Natal
e ele dá-me mais impostos.

E mal entra o Ano Novo
logo me cheira e pressinto
que eu, que pertenço ao Povo,
vou ter de apertar o cinto.

Sobe a água, sobe a luz,
e os aumentos são bem fortes
e, para aumentar a cruz
sobem também os transportes.

É pior de cada vez
que olho esse velho gaiteiro:
Já sei que vai sobrar mês
quando acabar o dinheiro.

No País em que vivemos
(somos quase 10 milhões)
Ali-Babás... poucos temos,
mas temos muitos ladrões.

Por isso é que não me ilude
este velhote atrevido:
Pai Natal é Robin Hood,
mas Robin Hood ... invertido.

FERNANDO PEIXOTO

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quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

« CARTA AO CORREIO »

Sylvia Cohin

Prezados senhores escrevo
um documento importante
e peço que distribuam
se possível, nesse instante.

Procuro pela alegria
no rosto da minha gente
fartura de pão e roupa
trabalho e comida quente!

Quero encontrar o idoso
que sem viço espera a sorte
do amparo e da saúde,
que afaste o temor da morte...

Procuro a esperança perdida
no rosto do meu irmão...
de tanto lutar na vida,
e ver que foi tudo em vão!

Ao Correio estou pedindo
que ache o pai desempregado,
a mãe que procura o filho,
um “menor abandonado”...

Visite as habitações
na barranca do ribeiro,
na solidão dos grotões,
a palhoça do roceiro...

Dos presídios não esqueça,
bandoleiros... marginais...
leve este alento e não meça,
muitos cá fora são mais...

Quero encontrar esse povo
sem justiça e sem defesa
que acredita no que dizem,
reparte a fome na mesa!

Leve alento aos brasileiros
que da pátria desertaram,
garimpando no estrangeiro,
o ouro que lhes negaram

Espalhe p’ra todo o povo
que o que procuro é banal,
um sonho que não é novo
e pode ser bem real...

Vá à procura do abraço
guardado para o amigo
e desfaça o embaraço
do ressentimento antigo...

Procure por mim as crianças
que na espera temporal,
pedem cheias de esperanças,
o seu sonho de Natal...

Peço que corra, ligeiro,
o ano está a findar
encontre no mundo inteiro,
quem não vai comemorar...

Preciso desses pedidos,
senão, p'ra que tanta festa
se no lar dos esquecidos,
se tem festa... é do que resta!

SYLVIA COHIN
Natal - 2007

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