quinta-feira, 7 de agosto de 2008

« SONETO da MEMÓRIA »

Sylvia Cohin

De tudo que se vive fica a marca
Vagando na deriva das memórias.
Um mar que em seu galeio embala a barca
Do pensamento que rabisca histórias...

Das lágrimas, o rasgo fundo n'água,
Dos risos, muitos traços sinuosos
Que o mar alheio, vai juntando à frágua
E as ondas sela em lábios silenciosos...

Do gozo, a leve espuma azul-cinzento
Entre marolas que a barca alvoroça.
E os rabiscos perdidos no momento
Que a avidez do mar, deles se apossa.

Mas a Memória viva no horizonte,
Projeta a velha história... e faz-se ponte.

SYLVIA COHIN

Portugal, 08 de Agosto de 2008

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« TEMPUS FUGIT »

Sylvia Cohin

Afinal quem és, oh Tempo,
incorpóreo todo o tempo?
Teu poder é um tormento,
todos devoras ciumento;
Jogas Vidas contra o tempo
nesse viver-passa-o-tempo?

Fazes sonhar a contento
Móis o viver-desalento
Mascateias fingimento
Atordoas turbulento
A escoar vagarento...

Serás, Tempo, só o «Entretempo»
que esperneia com o intento
de VIVER ainda a tempo
- mesmo que um breve momento -
antes de passar do tempo?

- Diz a Brisa a bafejar
num cochicho que sustenta
co'uma leveza sem par:

- Não passa o Tempo, lamenta,
somos nós, sempre a passar...

SYLVIA COHIN

Portugal, 08.08.2008

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« TUDO E NADA »

Sylvia Cohin

Do Tudo de que me falas
que afinal já não é Nada,
e nem tão pouco cabalas,
mas água que é já passada...

Do Nada que é talvez Tudo
tantas vezes sem sentido...
O olhar que contempla mudo
tanto o ganho, e o perdido...

Deserto, foz, afluente,
verdade, utopia, um canto,
um oásis renitente,
Tudo e Nada é só espanto.

É memória, esquecimento,
Nada é tão incoerente...
Duna ao sabor do vento,
Tudo é só uma semente...

SYLVIA COHIN

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« CONTRATEMPO »

Sylvia Cohin

Que amor é este que surpreende?
Que descompasso, quanta agonia!
Certo é, que o amor ninguém entende
E se opõe à razão com rebeldia...

Quem acalma este inquieto coração
aflito, sufocado de emoção?
E ri de mim, o desalmado!
Melhor que eu, sabe o que quer,
Por quem palpita... afogueado!
Bate apressado, bate ligeiro,
Num rodopio dentro de mim
Faz o que quer, o desordeiro,
Numa balbúrdia que não tem fim
Pois sempre soube por quem pulsava,
De minha espera, ria e zombava.

Fugiu de mim, o bandoleiro
E noutro peito, muito mansinho,
Fez a morada mais que ligeiro...
Aconchegou-se em outro ninho.

Faz tanto tempo te conhecia,
Que antes de mim (que ironia),
Apaixonou-se. Te amou primeiro!

SYLVIA COHIN

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